CARDEAL DOM CLÁUDIO HUMMES
Chegamos, assim, ao último ponto desta
conferência: a missionariedade dos presbíteros. De fato, hoje manifesta-se uma
nova urgência missionária. Além da Ásia e da África, também os países de antiga
cristianização, sobretudo na Europa, mas também na América Latina, necessitam
urgentemente de um novo esforço missionário. Os últimos Papas todos falaram
sobre isto, desde Paulo VI com sua Evangelii Nuntiandi ainda no clima
conciliar, e, depois, João Paulo II com a “Redemptoris Missio”, o
lançamento da nova evangelização “com novo ardor missionário, novos métodos e
novas expressões”, e a celebração do Grande Jubileu de Jesus Cristo, no ano
2000, com o consequente documento “Novo Millenio Ineunte”, conclamando
toda a Igreja a um coragioso e confiante “Duc in Altum”. Hoje, Bento
XVI assume convictamente este elã missionário suscitado pelos seus antecessores
e acaba de criar um novo Dicastério na Cúria Romana, o Pontifício Conselho para
a Promoção da Nova Evangelização, visando principalmente os países de antiga
cristianização – cujos católicos vão sempre mais se afastando da Igreja – e a
sociedade sempre mais laicista e a-religiosa senão anti-religiosa.
Acrescente-se o fenômeno do forte e continuado crescimento das Seitas
evangélicas (neo-)pentecostais que invadiram a América Latina e agora também
começam a expandir-se na África e até mesmo na Europa e outras partes do mundo.
Delas Bento XVI fala explicitamente como Seitas cujo proselitismo junto aos
católicos exige a nova evangelização daqueles que nós batizamos e agora se
afastam da Igreja Católica, porque não temos conseguido evangelizá-los em tempo
e suficientemente. No documento Motu Proprio de criação do novo
Dicastério, o Papa, citando a Christifideles Laici e
referindo-se a países onde ainda existe uma forte religiosidade católica, como
o Brasil, diz: “Noutras regiões ou nações, porém, conservam-se bem vivas ainda
tradições de piedade e de religiosidade popular cristã; mas, esse património
moral e espiritual corre hoje o risco de esbater-se sob o impacto de múltiplos
processos, entre os quais sobressaem a secularização e a difusão das seitas. Só
uma nova evangelização poderá garantir o crescimento de uma fé límpida e
profunda”. Igualmente, Bento XVI, na sua recém-publicada mensagem para o Dia
das Missões de 2011, intitulada “A urgência de evangelizar no mundo
globalizado”, ao dizer que “o serviço mais precioso que a Igreja pode prestar à
humanidade e a cada pessoa” é a evangelização, afirma que hoje “se alarga a
multidão daqueles que, embora tendo recebido o anúncio do Evangelho, o
esqueceram e abandonaram, não mais se reconhecendo pertencentes à Igreja;
muitos ambientes, também em sociedades tradicionalmente cristãs, hoje são
refratários a abrir-se à palavra da fé. Está em ato uma mudança cultural,
alimentada também pela globalização, pelos movimentos de pensamento e pelo
imperante relativismo, uma mudança que leva a uma mentalidade e a um estilo de
vida que precindem da mensagem evangélica”. Conclamando então todos os
católicos a empenharem-se na missão e na evangelização missionária, diz: “A
atenção e a cooperação na obra evangelizadora da Igreja no mundo não podem ser
limitadas a alguns momentos e ocasiões particulares, e nem podem ser
consideradas como uma das tantas atividades pastorais: a dimensão missionária
da Igreja é essencial, e portanto deve estar sempre presente. É importante que
tanto cada batizado quanto as comunidades eclesiais devem estar interessados
não em modo esporádico e saltuário à missão, mas em modo constante, como forma
de vida cristã”.
Também neste novo empenho missionário e de nova
evangelização poderá e deverá nos ajudar muito o documento de Aparecida. Ali
também se fala dos presbíteros missionários, de sua espirtualidade e tarefa
evangelizadora. A Igreja no Brasil foi particularmente conclamada a esta missão
e nova evangelização por Bento XVI, quando ele esteve no Brasil, para abrir a
Conferência de Aparecida, em 2007, e falou aos bispos brasileiros na Catedral
de São Paulo. Ali ele disse: “Entre os problemas que afligem a vossa solicitude
pastoral está, sem dúvida, a questão dos católicos que abandonam a vida
eclesial. Parece claro que a causa principal, dentre outras, deste problema,
possa ser atribuída à falta de uma evangelização em que Cristo e a sua Igreja estejam
no centro de toda explanação. As pessoas mais vulneráveis ao proselitismo
agressivo das seitas – que é motivo de justa preocupação – e incapazes de
resistir às investidas do agnosticismo, do relativismo e do laicismo são
geralmente os batizados não suficientemente evangelizados, facilmente
influenciáveis porque possuem uma fé fragilizada e, por vezes, confusa,
vacilante e ingênua, embora conservem uma religiosidade inata. [...] É
necessário, portanto, encaminhar a atividade apostólica como uma verdadeira
missão dentro do rebanho (grifo do conferencista) que
constitui a Igreja Católica no Brasil, promovendo uma evangelização metódica e
capilar em vista de uma adesão pessoal e comunitária a Cristo. Trata-se
efetivamente de não poupar esforços na busca dos católicos afastados e daqueles
que pouco ou nada conhecem sobre Jesus Cristo”.
No mesmo discurso Bento XVI sublinha que os
destinatários primeiros desta nova evangelização missionária devem ser os
pobres das periferias urbanas e do campo, também através de visitas
domiciliares. Sabemos todos quanto será importante e decisivo animar os
presbíteros a assumirem esta missão. Obviamente, não será o padre sozinho quem
deve realizá-la, mas com ele e preparada por ele a inteira comunidade paroquial
deve ser envolvida. Sim; a missão deve acontecer em cada paróquia. Ali, o padre
deve preparar ao menos um grupo considerável de leigos/as para fazerem a missão
domiciliar, da qual o pároco deveria participar e que deverá ser respaldada por
todo o programa de vida da paróquia e de sua ação litúrgica, catequética e de
solidariedade para com os pobres.
A missão não é um programa eventual e temporário
para o presbítero, mas o ser missionário faz parte da sua identidade e deve
integrar vigorosamente sua espiritualidade, cônscio de que o agente principal
da missão é o Espírito Santo. Cada presbítero deve sentir dirigido a si, em
primeira pessoa, o envio do Senhor Ressuscitado: “Ide por todo o mundo,
proclamai o Evangelho a toda criatura. Fazei que todos os povos se tornem meus
discípulos” (cfr. Mc 16,15 e Mt 28,19).
Nenhum comentário:
Postar um comentário