quarta-feira, 16 de maio de 2012


CARDEAL DOM CLÁUDIO HUMMES

 
Chegamos, assim, ao último ponto desta conferência: a missionariedade dos presbíteros. De fato, hoje manifesta-se uma nova urgência missionária. Além da Ásia e da África, também os países de antiga cristianização, sobretudo na Europa, mas também na América Latina, necessitam urgentemente de um novo esforço missionário. Os últimos Papas todos falaram sobre isto, desde Paulo VI com sua Evangelii Nuntiandi ainda no clima conciliar, e, depois, João Paulo II com a “Redemptoris Missio”, o lançamento da nova evangelização “com novo ardor missionário, novos métodos e novas expressões”, e a celebração do Grande Jubileu de Jesus Cristo, no ano 2000, com o consequente documento “Novo Millenio Ineunte”, conclamando toda a Igreja a um coragioso e confiante “Duc in Altum”. Hoje, Bento XVI assume convictamente este elã missionário suscitado pelos seus antecessores e acaba de criar um novo Dicastério na Cúria Romana, o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, visando principalmente os países de antiga cristianização – cujos católicos vão sempre mais se afastando da Igreja – e a sociedade sempre mais laicista e a-religiosa senão anti-religiosa. Acrescente-se o fenômeno do forte e continuado crescimento das Seitas evangélicas (neo-)pentecostais que invadiram a América Latina e agora também começam a expandir-se na África e até mesmo na Europa e outras partes do mundo. Delas Bento XVI fala explicitamente como Seitas cujo proselitismo junto aos católicos exige a nova evangelização daqueles que nós batizamos e agora se afastam da Igreja Católica, porque não temos conseguido evangelizá-los em tempo e suficientemente. No documento Motu Proprio de criação do novo Dicastério, o Papa, citando a Christifideles Laici e referindo-se a países onde ainda existe uma forte religiosidade católica, como o Brasil, diz: “Noutras regiões ou nações, porém, conservam-se bem vivas ainda tradições de piedade e de religiosidade popular cristã; mas, esse património moral e espiritual corre hoje o risco de esbater-se sob o impacto de múltiplos processos, entre os quais sobressaem a secularização e a difusão das seitas. Só uma nova evangelização poderá garantir o crescimento de uma fé límpida e profunda”. Igualmente, Bento XVI, na sua recém-publicada mensagem para o Dia das Missões de 2011, intitulada “A urgência de evangelizar no mundo globalizado”, ao dizer que “o serviço mais precioso que a Igreja pode prestar à humanidade e a cada pessoa” é a evangelização, afirma que hoje “se alarga a multidão daqueles que, embora tendo recebido o anúncio do Evangelho, o esqueceram e abandonaram, não mais se reconhecendo pertencentes à Igreja; muitos ambientes, também em sociedades tradicionalmente cristãs, hoje são refratários a abrir-se à palavra da fé. Está em ato uma mudança cultural, alimentada também pela globalização, pelos movimentos de pensamento e pelo imperante relativismo, uma mudança que leva a uma mentalidade e a um estilo de vida que precindem da mensagem evangélica”. Conclamando então todos os católicos a empenharem-se na missão e na evangelização missionária, diz: “A atenção e a cooperação na obra evangelizadora da Igreja no mundo não podem ser limitadas a alguns momentos e ocasiões particulares, e nem podem ser consideradas como uma das tantas atividades pastorais: a dimensão missionária da Igreja é essencial, e portanto deve estar sempre presente. É importante que tanto cada batizado quanto as comunidades eclesiais devem estar interessados não em modo esporádico e saltuário à missão, mas em modo constante, como forma de vida cristã”.

Também neste novo empenho missionário e de nova evangelização poderá e deverá nos ajudar muito o documento de Aparecida. Ali também se fala dos presbíteros missionários, de sua espirtualidade e tarefa evangelizadora. A Igreja no Brasil foi particularmente conclamada a esta missão e nova evangelização por Bento XVI, quando ele esteve no Brasil, para abrir a Conferência de Aparecida, em 2007, e falou aos bispos brasileiros na Catedral de São Paulo. Ali ele disse: “Entre os problemas que afligem a vossa solicitude pastoral está, sem dúvida, a questão dos católicos que abandonam a vida eclesial. Parece claro que a causa principal, dentre outras, deste problema, possa ser atribuída à falta de uma evangelização em que Cristo e a sua Igreja estejam no centro de toda explanação. As pessoas mais vulneráveis ao proselitismo agressivo das seitas – que é motivo de justa preocupação – e incapazes de resistir às investidas do agnosticismo, do relativismo e do laicismo são geralmente os batizados não suficientemente evangelizados, facilmente influenciáveis porque possuem uma fé fragilizada e, por vezes, confusa, vacilante e ingênua, embora conservem uma religiosidade inata. [...] É necessário, portanto, encaminhar a atividade apostólica como uma verdadeira missão dentro do rebanho (grifo do conferencista) que constitui a Igreja Católica no Brasil, promovendo uma evangelização metódica e capilar em vista de uma adesão pessoal e comunitária a Cristo. Trata-se efetivamente de não poupar esforços na busca dos católicos afastados e daqueles que pouco ou nada conhecem sobre Jesus Cristo”.

No mesmo discurso Bento XVI sublinha que os destinatários primeiros desta nova evangelização missionária devem ser os pobres das periferias urbanas e do campo, também através de visitas domiciliares. Sabemos todos quanto será importante e decisivo animar os presbíteros a assumirem esta missão. Obviamente, não será o padre sozinho quem deve realizá-la, mas com ele e preparada por ele a inteira comunidade paroquial deve ser envolvida. Sim; a missão deve acontecer em cada paróquia. Ali, o padre deve preparar ao menos um grupo considerável de leigos/as para fazerem a missão domiciliar, da qual o pároco deveria participar e que deverá ser respaldada por todo o programa de vida da paróquia e de sua ação litúrgica, catequética e de solidariedade para com os pobres.

A missão não é um programa eventual e temporário para o presbítero, mas o ser missionário faz parte da sua identidade e deve integrar vigorosamente sua espiritualidade, cônscio de que o agente principal da missão é o Espírito Santo. Cada presbítero deve sentir dirigido a si, em primeira pessoa, o envio do Senhor Ressuscitado: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura. Fazei que todos os povos se tornem meus discípulos” (cfr. Mc 16,15 e Mt 28,19).

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