CARDEAL DOM CLÁUDIO HUMMES
Outro fenômeno é o envolvimento afetivo ilícito de presbíteros com mulher, p.ex. em concubinato Também nestes casos obviamente o bispo não pode fechar os olhos, mas deve imediatamente começar a tomar as providências, segundo as normas da Igreja, toda vez que tenha conhecimento objetivo de um caso desta natureza, ou ao menos tenha indícios sérios. Muitas vezes, por falta de correção total do presbítero, será necessário afastá-lo definitivamente do ministério. Mas, sempre que tiver havido a transgressão, ainda que não se chegue a exclusão definitiva do ministério, o presbítero deverá ser sujeito à punição canônica prevista. Nos casos em que houver filho nascido de tal relação, o Papa atual indicou à Congregação para o Clero que o presbítero deve sair e assumir a paternidade, deixando, portanto, o ministério. Também nos casos que aconteceram há mais tempo, se o filho ainda for menor, o padre assuma integralmente seu filho. O bispo pode às vezes precisar ajudar o padre a entender e a aceitar benevolamente este caminho. Sabemos que a prática em outros tempos era muito variada, pois procurava-se acima de tudo salvar o ministério do padre. Hoje, a Igreja tem uma consciência maior e mais clara sobre os direitos humanos e as necessidades da criança. É a criança que tem necessidade fundamental de ter um pai e uma mãe que a assumam, amem, eduquem e convivam com ela normalmente. Mesmo se os pais forem separados ou nem podem casar, a criança tem o direito de saber quem são seus pais e de ser por eles amada e educada e de poder dizer em público e com alegria: “este é meu pai e esta é minha mãe!”. A necessidade natural e essencial da criança prevalece sobre o prosseguimento do pai no ministério ordenado. Ainda recentemente, na festa da Sagrada Família, dia 26 de dezembro passado, Bento XVI no Angelus, na Praça São Pedro, falando do mistério da Sagrada Família, acrescentou: “O nascimento de cada criança traz consigo algo deste mistério [da Sagrada Família]. Sabem-no bem os pais que recebem este dom e que, muitas vezes, assim dele falam. Todos nós já ouvimos um papai ou uma mamãe dizer: «Esta criança é um dom, é um milagre!». Com efeito, os seres humanos vivem a procriação não como mero ato reprodutivo, mas percebem sua riqueza, intuem que cada criatura humana, que nasce na terra, é «sinal» por excelência do Criador e Pai que está nos céus. Quão importante, então, que cada criança, ao vir ao mundo, seja acolhida no calor de uma família! Não importam as comodidades exteriores. Jesus nasceu numa estrebaria e como primeiro berço teve uma manjedoura, mas o amor de Maria e de José lhe fizeram sentir a ternura e a beleza de ser amado. Disso têm necessidade as crianças: do amor do pai e da mãe. É isto que lhes dá segurança e que, enquanto crescerem, lhes permite descobrir o sentido da vida”.
Tais delitos e transgressões morais, canônicos e muitas vezes também civis, como pedofilia, homosexualidade, concubinato e outros, cometidos por membros do clero, devem ser combatidos e corrigidos continuamente, com justiça e caridade, pelo bispo. Este não pode fechar os olhos, porque estaria correndo sério risco de dar escândalo. O escândalo de que fala o Evangelho não é em primeiro lugar o barulho e o clamor público contra um delito, mas é induzir alguém ao mal. Se o bispo sabe de um tal caso – e certamente outras pessoas, também do clero, sabem – então, se o bispo não tomar providências segundo as leis canônicas e civis, essas pessoas concluirão que o caso não é pecado nem crime, já que o bispo sabe e não faz nada. Um padre que estivesse em crise de vocação, poderia acabar decidindo seguir o mesmo caminho, já que o bispo fecha os olhos. Ao invés, se o bispo tomar as devidas providências, os fieis e os padres se sentirão mais convencidos e mais fortes a resistir ao mal. Será um bem, sobretudo para o clero.
É claro que em toda história da Igreja, e não somente hoje em dia, os presbíteros tiveram que empenhar-se fortemente em viver segundo as normas evangélicas e eclesiásticas que lhes diziam respeito e sempre houve também transgressões. Mas os tempos atuais agravaram de forma nova a situação, na medida em que estamos vivendo uma grande mudança cultural. A nova culuta adveniente e sempre mais predominante, também chamada pós-moderna e urbana, é uma cultura secularizada e secularista, laicista, relativista, subjetivista, extremamente liberal em termos de ética e moral, erotizada e filo-transgressiva (a transgressão moral é, em muitos casos, aplaudida!). Neste ambiente, tornou-se mais difícil e exigente viver o Evangelho e a identidade presbiteral, pois a sociedade deixou de ser um ambiente favorável; ao contrário, ela é a-religiosa e muitas vezes agressivamente anti-religiosa. Por esta razão, urge reforçar a espiritualidade do presbítero.
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