quarta-feira, 16 de maio de 2012


CARDEAL DOM CLÁUDIA HUMMES

A já citada “Presbyterorum Ordinis” mostra que o presbítero deve ter uma espiritualidade própria. Uma espiritualidade que o leve a santificar-se, no Espírito de Cristo, através do exercício fiel dos seus três múnus, o ministério da Palavra, o ministério de oferecer aos fiéis a santificação no Espírito Santo, pelo culto e os Sacramentos, especialmente a Eucaristia, e o ministério de governar a comunidade como seu pastor. Diz a Presbyterorum Ordinis: “Os presbíteros atingem a santidade pelo próprio exercício do seu ministério, realizado sincera e infatigavelmente no Espírito de Cristo” (n. 13). Foi importante esta orientação do Concílio, porque antes muitos sacerdotes procuravam um caminho espiritual junto às várias escolas de espiritualidade das Ordens religiosas. Agora, ficou claro que o presbítero, como tal, tem uma espiritualidade própria. Contudo, hoje observamos que há presbíteros diocesanos que aderem a algum dos assim chamados novos Movimentos e buscam nutrir-se de sua espiritualidade. Sobre isto, João Paulo II declarou na “Pastores dabo vobis”: “A participação do seminarista e do presbítero diocesano em espiritualidades particulares ou agregações eclesiais é certamente, em si mesma, um fator benéfico de crescimento e de fraternidade sacerdotal. Mas esta participação não deve obstaculizar, antes deverá ajudar o exercício do ministério e a vida espiritual que são próprios do sacerdote diocesano” (n.68). Portanto, tais espiritualidades podem enriquecer a vida espiritual do presbítero diocesano, mas nele deve prevalecer a espiritualidade própria do clero diocesano.

Segundo a Presbyterorum Ordinis, o núcleo da espiritualidade presbiteral é a caridade pastoral: “Os presbíteros alcançarão a unidade da sua vida, unindo-se a Cristo no conhecimento da vontade do Pai e no dom de si mesmos pelo rebanho que lhes foi confiado. Assim, fazendo as vezes do Bom Pastor, encontrarão no próprio exercício da caridade pastoral o vínculo da perfeição sacerdotal, que conduz à unidade de vida e ação” (n. 14). A Pastores dabo vobis retoma este ensinamento conciliar, dizendo: “A caridade pastoral constitui o princípio interior e dinâmico capaz de unificar as múltiplas e diferentes atividades do sacerdote. Graças a ela, o presbítero pode encontrar resposta à exigência permanente e essencial de unidade entre a vida interior e tantas atividades e responsabilidades do ministério, exigência sempre mais urgente num contexto sócio-cultural e eclesial fortemente assinalado pela complexidade, desagregação e dispersão” (n.23). Essa caridade pastoral foi o que Cristo exigiu de Pedro para dar-lhe o pastoreio da Igreja: “Simão, filho de João, tu me amas?” – “Sim, Senhor”, disse-lhe ele, “tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta minhas ovelhas” (Jo 21, 16). Amar a Jesus Cristo, o Bom Pastor, e amar suas ovelhas como Ele as amou, a ponto de dar a vida por elas, eis a caridade pastoral necessária para cada presbítero. Ela constitui o cerne da espiritualidade presbiteral.

Nutrir esta caridade pastoral impõe-se ao presbítero como um programa permanente e quotidiano de vida e missão. Ela se nutre principalmente da Eucaristia. Diz a Presbyterorum Ordinis: “Esta caridade pastoral flui sobretudo do sacrifício eucarístico, que permanece o centro e a raiz de toda a vida do presbítero, de tal maneira que aquilo que ele realiza sobre a ara do sacrifício, isso mesmo procura realizar em si o espírito sacerdotal. Isto, porém, só se pode obter à medida em que os presbíteros penetrarem cada vez mais profundamente no mistério de Cristo pela oração” (n. 14). Aliás, a celebração diária da Eucaristia é fortemente recomendada pela Igreja. E o texto agora citado apresentou também um segundo alimento espiritual: a oração. Todos sabemos, por experiência, como a oração é decisiva na vida e missão do padre. Um padre que reza pouco ou nada, não irá longe. Trata-se da oração litúrgica, comunitária, mas também da oração pessoal e privada. Aliás, quando falta esta última, também a oração litúrgica e comunitária vão perdendo para o presbítero seu sabor e sua força transformadora.

Outro alimento indispensável para a espiritualidade sacerdotal é a Palavra de Deus, especialmente através da “lectio divina”. Aliás, o acesso constante à Palavra de Deus ilumina também a Eucaristia e a oração do presbítero. Tantos outros meios de santificação podem ser ainda enumerados, como o recurso frequente à Confissão Sacramental, a Liturgia das Horas integralmente realizada cada dia, a visita ao Santíssimo Sacramento, o Rosário, a meditação, o retiro espiritual. Tudo isto fará com que o presbítero exerça fielmente, com alegria e disponibilidade, no Espírito de Cristo, seus três múnus. Além disso, neste programa de vida e missão, o amor e a solidariedade para com os pobres e com todos os sofridos, constitui-se exigência determinante para o presbítero, pois, como diz o Evangelho de Mateus, no fim dos tempos Jesus Cristo nos julgará segundo a medida de nosso amor e de nossa solidaridade concreta aos mais necessitados deste mundo. Sobre isso, poder-se-ia falar longamente.

Em síntese, para ter uma espiritualidade intensa, o presbítero precisa ser transformado pelo Espírito Santo num ardoroso e fiel discípulo de Jesus. O caminho da espiritualidade é o caminho do discipulado. Só um bom discípulo tem as condições de ser um bom pastor da comunidade dos discípulos de Cristo. O documento de Aparecida, do episcopado latino-americano e caribenho, torna-se, então, um grande subsídio para este caminho espiritual que o presbítero deve percorrer. Ali podemos também constatar como o discípulo se torna missionário

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