Padre Françoá Costa
Pentecostes
Espírito Santo: Senhor
e doador de vida!
O Espírito Santo foi chamado alguma vez de “O
Grande Desconhecido” (São Josemaria Escrivá, Caminho, 57). Isso me faz lembrar
aquela passagem dos Atos dos Apóstolos na qual Paulo ao chegar a Éfeso, ao
conversar com alguns discípulos lhes pergunta: “Recebestes o Espírito Santo,
quando abraçastes a fé?” Respondem eles da seguinte maneira: “Mas nem sequer
ouvimos dizer que existe um Espírito Santo” (At 19,2). Dá a impressão muitas
vezes que alguns cristãos nem sabem se existe um Espírito Santo. Quem é o
Espírito Santo?
é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, é “o Senhor e Doador de Vida, que
procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o Filho recebe uma mesma adoração e
glória e que falou pelos profetas”. O Espírito Santo é Deus, como o Pai é Deus
e como o Filho é Deus. Ele é o Paráclito, o Consolador, enviado por Cristo para
comunicar-nos a vida divina. É ele quem nos introduz no Mistério de Cristo, é
ele quem nos dá a graça, as virtudes da fé e da esperança e da caridade, os
dons e os frutos. Quem é o Espírito Santo? É aquele que mora em
você, o doce hóspede da sua alma, foi ele quem o fez templo de Deus, filho de
Deus, membro da Igreja, quem lhe deu a salvação, a justificação e a vida
eterna. “Desde o nascimento da Igreja, é ele quem dá a todos os povos, o
conhecimento do verdadeiro Deus; e une, numa só fé, a diversidade da raças e
línguas” (prefácio de Pentecostes).
Não podemos ignorar o Espírito Santo e seu poder.
Quando o Espírito Santo vem habitar em nós vem com o Pai e com o Filho.
Santa Teresa conta que, ao considerar certa vez a
presença das Três divinas Pessoas na sua alma, “estava espantada de ver tanta majestade
em coisa tão baixa como é a minha alma”, e então o Senhor disse-lhe: “Não é
baixa, minha filha, pois está feita à minha imagem” (Santa Teresa, Contas de
consciência, 41, 2). Nós fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Quis Deus
que essa semelhança fosse semelhança mesmo e nos fez participar de sua natureza
divina. É pelo Espírito Santo que nós participamos da natureza divina. “Como
não dar graças a Deus pelos prodígios que o Espírito não cessou de realizar
nestes dois milênios de vida cristã? O evento de graça do Pentecostes tem, com
efeito, continuado a produzir os seus maravilhosos frutos, suscitando em toda a
parte ardor apostólico, desejo de contemplação, empenho em amar e servir com
total dedicação a Deus e aos irmãos. Ainda hoje o Espírito alimenta na Igreja
gestos pequenos e grandes de perdão e de profecia, dá vida a carismas e dons
sempre novos, que atestam a Sua ação incessante no coração dos homens” (João
Paulo II, Homilia do Domingo de Pentecostes de 1998).
Pentecostes já era uma festa celebrada pelos
judeus cinquenta dias depois da Páscoa. No começo era uma festa na qual se dava
graças a Deus pela colheita da cevada e do trigo, era uma festa agrícola. Já no
século I, porém, tornou-se a festa que celebrava a aliança (o dom da lei e a constituição
do Povo de Deus). Cinquenta dias depois da Páscoa, os discípulos de Cristo
recebem o Espírito Santo, a lei na nova aliança no sangue de Jesus. Também o
Espírito Santo constitui a nova comunidade do Povo de Deus, a Igreja.
Nela, todos devem estar unidos em Cristo e na
força do Espírito Santo. As línguas de Pentecostes significam essa unidade do
Povo de Deus. Pentecostes é, então, o reverso de Babel (cf. Gn 11,1-9); em
Babel, a dispersão, aqui, a unidade. O Espírito Santo, que é o amor do Pai e do
Filho, é também amor entre nós. Lembremo-nos que é sempre o amor que une os
corações. O amor, por ser conhecido propriamente somente pelos que se amam, é
sempre muito discreto. Daí a discrição do Espírito Santo: sua missão é levar a
Palavra de Jesus, ajudar a Igreja para que anuncie destemidamente a Palavra da
salvação, Jesus Cristo. Isso condiz com o Espírito Santo que é amor, já que o
autêntico amor sempre pensa mais no outro que em si mesmo.
A Igreja precisa estar unida. Hoje terminamos a
Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos; findamos a semana, não a oração
pela unidade dos cristãos. Todos nós, discípulos de Cristo, precisamos – é
importante para nós e para a evangelização – viver bem unidos: uma só fé, os
mesmos sacramentos, um só governo: o do Papa e o dos Bispos em comunhão com
ele. A divisão é vergonhosa para nós. “Celebrai, pois, este dia como membros do
único corpo de Cristo. E não o celebrareis em vão, se realmente sois aquilo que
celebrais, isto é, se estais perfeitamente incorporados naquela Igreja que o
Senhor enche do Espírito Santo e faz crescer progressivamente através do mundo
inteiro. (…) Esta é a casa de Deus, edificada com pedras vivas. Nela o Eterno
Pai gosta de morar; nela seus olhos jamais devem ser ofendidos pelo triste
espetáculo da divisão entre seus filhos” (Dos Sermões de um Autor africano
anônimo do séc.VI).
As línguas de fogo no dia de Pentecostes
simbolizam a unidade da Igreja, ela falaria todas as línguas com a sua
expansão; no entanto, essa que falaria todas as línguas encontra-se toda ali,
unida. Essas línguas são de fogo. “O fogo simboliza a energia transformadora do
Espírito Santo” (Cat. 696). Também ao Espírito Santo poderia aplicar-se o
simbolismo da água, que significa “o nascimento e a fecundidade da vida dada no
Espírito Santo” (Id.). Nós experimentamos a água e o fogo, ao mesmo tempo.
Nascemos da água e do Espírito no nosso Batismo (cf. Jo 3,5), a partir daí o
Espírito Santo começa uma ações muito especiais em nós que vai
transformando-nos mais e mais. São Basílio fala-nos da importância de estar com
o Espírito Santo, ou melhor, de que o Espírito Santo esteja em nós: “Por
estarmos em comunhão com Ele, o Espírito Santo torna-nos espirituais,
recoloca-nos no Paraíso, reconduz-nos ao Reino dos céus e à adoção filial, dá-nos
a confiança de chamarmos Deus de Pai e de participarmos na graça de Cristo, de
sermos chamados filhos da luz e de termos parte na vida eterna” (Liber de Sp.
Sancto, 15,36, em Cat. 736).
Antes de Pentecostes, “Todos eles perseveravam
unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de
Jesus” (At 1,14). Peçamos nós também, em união com toda a Igreja e com Maria,
Mãe de Igreja: Vinde, Espírito Santo!
Pe. Françoá Costa
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