O ESPÍRITO SANTO NA VIDA DA COMUNIDADE
São Lucas narra o
evento do Pentecostes como uma teofania, uma manifestação de Deus semelhante à
do monte Sinai (Ex19, 16-25): rumor, vento forte, línguas de fogo. A mensagem é
clara: o Pentecostes é o Novo Sinai, e o dom da nova lei. De modo penetrante
Santo Agostinho capta este ligame: “Há um grande e maravilhoso mistério,
irmãos: se prestardes atenção, no dia de Pentecostes (os judeus) receberam a
lei escrita com o dedo de Deus e no mesmo Pentecostes vem o Espírito Santo”. E
um padre do Oriente, Severino da Gábala, anota “Era conveniente que no dia em
que foi dada a lei antiga, naquele mesmo dia fosse dada a graça do Espírito
Santo”.
No Pentecostes desce o Espírito e nasce a igreja. A Igreja é a comunidade daqueles que “renasceram do alto”, “da água e do Espírito” como se lê no Evangelho de João (3,35). É o momento, então, da criação da comunidade dos que aceitam e seguem Jesus Cristo, na força do Espírito Santo. A comunidade recebe a missão de continuar a missão de Jesus Cristo. O mesmo Espírito Santo que impelia Jesus e o guiava, agora impele e guia a comunidade. A missão é a construção da comunhão das pessoas com o Pai, a comunhão fraterna entre todas as pessoas e todos os povos. As comunidades reconheceram que o crescimento da Igreja se devia ao apoio do Espírito Santo (At 9,13)
A narração do evento Pentecostes ressalta que a Igreja nasce universal: é o sentido do elenco dos povos. Nos vv. 5-11 há uma lista de 12 povos e três regiões; primeiro apresenta os nativos: partos, medos e elamitas. Em seguida cita os habitantes da Judéia, Capadócia, Ponto, frigia, Panfília e Egito e as três regiões: Mesopotâmia, Ásia e Líbia. E num terceiro grupo enumera os estrangeiros: romanos, cretenses e árabes. Isso deixa bem claro que o projeto de Deus é para todos, não tem fronteira. Todos são convocados para ouvir e viver as maravilhas de Deus. O Espírito Santo é dado a todos os homens de qualquer raça e nação, e realiza neles a nova unidade do Corpo Místico de Cristo.
Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e se puseram a falar em outros línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. (At 2,4). O dom das línguas na festa de Pentecostes, como também em outros textos dos Atos, tem um único objetivo: é para o anúncio profético da Boa Nova (At 4,8.31;19,6). Os discípulos de Jesus são os novos profetas que anunciam a Palavra de Deus. É o próprio Espírito de Deus que guia os discípulos em sua missão de anunciar. É por isso que Pedro, um simples Galileu, pode interpretar as profecias messiânicas de Joel – tempo em que o Espírito de Deus é derramado sobre toda criatura, para anunciar a mensagem de salvação ou seja profetizarão (At 2,17,21).
Falar línguas (ou glossolalia, em grego) era uma das manifestações de transe ou êxtase do antigo profetismo do povo da Bíblia (Nm11, 32-30 ou 1Sm 10,5-13). Nas comunidades de Coríntios falar língua era entendido como um dom do Espírito (1Cor 12 a 14). Paulo adverte os cristãos de Corinto por causa de exageros em relação a esse carisma sendo ele na visão de Paulo o mais insignificante em relação aos demais carismas.
No daí de Pentecostes, é a efusão do espírito Santo que transforma os apóstolos. Antes, medrosos, ficam de portas fechadas. Agora abrem as portas e enfrentam a multidão (At 2,14). Antes, conformam-se com a decisão do Sinédrio e de Pilatos que condena Jesus à morte (Lc 24,20). Agora levantam a cabeça e dizem: “devemos obedecer mais a Deus do que os homens”(At 4,29). Antes, Pedro se acovarda diante de uma empregada (Lc 22,56). Agora, dá um testemunho corajoso diante da multidão (At 2,32:3,13) e do Sinédrio.
Este Espírito está presente nas comunidades e traz alegria e consolação em meio às dificuldades (At 9,31; 13,52). Ele orienta nos momentos decisivos: na hora da entrada de gentios (At 11,15), na hora de tomar a iniciativa da missão e de enviar missionários (At 13,2. 4), na hora da perseguição diante dos tribunais (At 4,31).
Está presente também naqueles que coordenam as comunidades (At 20,28): nos apóstolos (At 5,32; 15,28), nos diáconos (At 6,3). Está presente em Pedro, quando enfrenta o Sinédrio (At 4,8), quando toma a decisão de batizar os gentios (At 10,9;11,12). Está presente em Paulo, quando enfrente o mago Elimas (At 13,9), quando se ergue para anunciar a Boa Nova (At 13,16).
Ele está presente nos missionários que vão anunciar a Boa Nova (At 13,4). Acompanha-os nas viagens (At 16,6.7), tanto na ida como na volta (At 20,22-23). Ele convoca Felipe para evangelizar o etíope (At 8,29) e arrebata para levá-lo a Azot (At 8,31). Age em Estêvão, tomando sua palavra irresistível (At 6,5.10;7,55). Atua através de tantas outras pessoas: de Barnabé, enviado para coordenar a primeira comunidade entre gentios (At 11,28) e Ágabo, o profeta que anuncia fome para a região (At 11,28) e prisão para Paulo (At 21,110; de Ananias, o anfitrião de Paulo (At 9,17)). Das quatro filhas profetisas de Felipe (AT 21,9), como já atuara através de Maria (Lc 1,35) e de Isabel (Lc 1,41).
Um dos maiores pecados é resistir ao Espírito Santo (At 7,,51), tentá-lo e mentir a ele (At 5,3.9), querer comprá-lo (At 8,19). O espírito não se compra nem se vende (At 8,20), mas se adquire com oração (Lc 11,13). Ele se comunica de muitas maneiras, por exemplo, pela imposição das mãos (At 8,17-18; 19,6), pela conversão e batismo (At 2,38), pela oração (At 8,15).
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