Carisma da fé
A fé é uma experiência concreta no poder de Deus. “Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. A fé é um dom que o Espírito Santo coloca à disposição dos homens para que ele possa experimentar concretamente do próprio poder de Deus. “Pela fé o homem submete completamente a sua inteligência e sua vontade a Deus. Com todo o seu ser o homem dá seu assentimento a Deus revelado. “A Sagrada Escritura denomina obediência da fé esta resposta do homem ao Deus que se revela” (Cat. 143) Cf. DV, 5; Rm 1,5;16,26). Fé é a adesão a anuência (assentimento, aprovação, consentimento) pessoal a Deus. É crer, é confiança.
A fé que inflama o coração do homem, levando-o a ter uma experiência pessoal com o Senhor vivo e ressuscitado, contagiará novos corações com um fogo que devora as folhas secas de uma floresta, para se deixarem amar cada vez mais por Deus, para deixarem Deus agir cada vez mais de forma poderosa.
A fé deve ser vivida pelo cristão sob três aspectos fundamentais: a fé teologal ou doutrinal, a fé virtude e a fé carismática:
O primeiro aspecto é a fé teologal, também chamada de fé doutrinal. Por ela o cristão acredita nas coisas reveladas por Deus, em Jesus e no Espírito Santo na Igreja. A fé teologal faz o homem crer firmemente em Deus como o seu Pai, que se importa com sua vida, não é um Deus indiferente, distante de sua vida. É o criador de todas as coisas, do céu da terra, origem de toda a criação, aquele que tudo providencia para a sua vida, que protege e dele cuida. Esta fé crê firmemente em Jesus Cristo, reconhecendo-o como o enviado do Pai, o Filho de Deus, o salvador do mundo, Jesus, o “Verbo” que se fez carne e habitou entre não e vimos a sua glória, a glória que um Filho Único do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14); crê que somos justificados gratuitamente pela fé em Nosso Senhor Jesus Cristo; crê firmemente no Espírito Santo de Deus que edifica a Igreja de Cristo, e a santifica (At 2,4); crê que o Espírito Santo é o poder de Deus “a força do Alto”, derramado em seus corações, o “Paráclito”, o “Advogado”, que lhe revela sobre a justiça e a verdade.
Esta fé teologal é necessária para a nossa salvação. “Justificados, pois, pela fé, temos a paz com Deus, por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5,1). A fé teologal vem em conseqüência do batismo, pregação, (Rm 10,14), do anúncio de Cristo, do testemunho, da catequese, aprofunda a fé. A fé teologal fundamenta na Palavra de Deus, nos sacramentos, na oração e na vida comunitária é um grande sustentáculo para o cristão do mundo de hoje que vive em um tempo onde “os homens já não suportam a sã doutrina da salvação e se deixam levar pelas próprias paixões... (2Tm 4,3-4).
O segundo aspecto da fé e chamada de fé virtude incondicional, leva o homem a confiar plenamente no cumprimento das promessas de Deus; conduzindo-o a uma entrega total a Deus e a sua providência. (Mt 6,25). A fé virtude leva o homem a crer concretamente. Na presença de Deus em sua vida, independente das circunstâncias do momento, pois olha a sua vida não mais com os lhos humanos, mas segundo a visão de Deus. A fé virtude ou fruto do Espírito Santo leva o homem a ter uma vida totalmente abandonada na providência de Deus, Ela o conduz a praticar a Palavra de Deus, viver segundo a vontade de Deus, o homem não apenas conhece os mandamentos de Deus intelectualmente, mais eles são introduzidos dentro do coração que não só os acolhe como Palavra de Deus, mas os pratica no dia-a-dia de sua vida. “Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). “Esta fé virtude leva o homem a crer e experimentar a bondade, a misericórdia e o amor de Deus na sua vida” (1Jo 4,16).
No livro do Gênesis temos um exemplo fantástico de fé, que é o de Abraão: ”Não vacilou na fé, embora reconhecendo o seu próprio corpo sem vigor, pois tinha quase cem anos e o seio de Sara igualmente amortecido. Ante a promessa de Deus, não vacilou, não desconfiou, mas conservou-se forte na fé e deu glória a Deus. Estava plenamente convencido de que Deus era poderoso para cumprir o que prometera” (Rm 4,19-21)
O terceiro aspecto da fé é chamado de dom carismático da fé e acrescenta um dado novo. “O dom carismático da fé é um poder de Deus que nos move a uma confiança íntima de que Deus agirá. Essa confiança leva a uma oração convicta, a uma decisão, a uma firmeza ou ato que libera a bênção de Deus. Através do dom carismático da fé o Espírito Santo nos dá a certeza de que Deus agirá, de que o poder de Deus irá intervir em alguma situação da vida do homem. Pelo com carismático da fé cremos que Deus opera hoje maravilhas em favor do seu povo. A fé move a manifestação do poder de Deus através do seu Espírito Santo.
Em Moisés encontramos um exemplo do dom carismático da fé, pois diante das murmurações do povo, ao ver os egípcios se aproximarem, ”verem ao seu encalço” (Ex 14,10), responde: “Não temas! Tende ânimo, e vereis a libertação que o Senhor vai operar em vosso favor: Os egípcios que hoje vedes não os tornareis a ver jamais. O Senhor combaterá por vós quanto a vós, nada tereis a fazer” (Ex 14,13-14). Moisés demonstra a sua fé não só com palavras, mas com obras. Diante da ordem do Senhor, ele prontamente obedece: E tu, levantas a tua vara, estende a mão sobre o mar e fere-o, para que os israelitas possam atravessá-lo a pé enxuto (ex 14,16-21). Ao lermos no primeiro dos Reis a história que conta o confronto de Elias com os quatrocentos profetas de Baal (1Rs 18,20-40), percebemos que Elias usou o dom carismático da fé, pois agia com muita autoridade e confiança. Parecia que ele já estava vendo aquilo que iria acontecer.
Jesus Cristo realizou muitos milagres em razão do dom carismático da fé. Encontramos esta fé com centurião que tinha um servo de cama, paralítico, que sofria muito (Mt 8,5-13); na Cananéia (pagã) que suplica a Jesus a cura de sua filha atormentada por um demônio (NT 15,21-28); no oficial do rei que suplica a cura do filho, que estava preste a morrer (Jo 4,43-53). Esta fé se faz presente no meio de pessoas comuns. Humildes, simples, como no caso da homorroíssa (Mc 5,25-34); e dos amigos do paralítico (Lc 5,21); o pai do menino epilético (Mc 924) e também entre um chefe da sinagoga, Jairo, que suplicava a cura de sua filha (Mc 5,35-43). Todos tinham certeza que Deus operava milagres. Jesus também agia segundo a fé que Ele tinha que o seu Pai iria realizar a sua obra, como é o caso da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-44). Jesus diz para nós: “Se creres, verás a glória de Deus” (Jo 11,40).
Jesus ensinou muito aos discípulos sobre o dom carismático da fé: “Tendes fé em Deus... Tudo o que disser a esta monte: Levanta-te e lança-te ao mar, se ela não duvidar no seu coração ele obterá esse milagre (Mc 11, 22-23); “Tudo o que pedirdes com fé na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-a dado” (Mt 11,24); “Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o alcançareis”” (Mt 21,22); “Em verdade vos digo, se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a esta montanha: “Transporta-te daqui para lá, e ela irá, e nada vos será impossível” (Mt 17,19; Lc 17,6).
Os Apóstolos realizaram grandes e inúmeros milagres porque foram dóceis à ação do Espírito Santo através do dom carismático da fé. Pedro e João, ao subirem no templo para rezar, encontraram-se com um homem coxo que todos os dias estava à porta do templo a pedir esmola (At 3,1-11). Pedro fitou nele os olhos e disse: “Não temos ouro nem prata, mas o que tenho eu te doeu: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda! Imediatamente os pés e os tornozelos se lhe firmaram” (At 3,6-7).
É muito importante que nós nos abramos a este dom carismático da fé, da mesma forma que os Apóstolos se abriram e o vivenciaram para a edificação do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Precisamos permitir que o Senhor cada vez mais edifique a nossa fé para sermos canais de edificação da fé dos nossos irmãos, sabendo que ele é o Deus do amor (1Jo 4.816). O dom carismático da fé fará que cada homem e toda Igreja experimentem em suas vidas as maravilhas de Deus de forma concreta e real para o louvor e honra da sua glória.
A virgem Maria realizou da maneira mais perfeita a obediência da fé. Na fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazida pelo anjo Gabriel, acreditando que “nada é impossível a Deus” (Lc 1,37) É a fé da Virgem Maria, de Abraão, de Moisés e tantas outras testemunhas da fé que devemos aderir de todo o nosso coração, para que esta mesma fé nos ilumine e nos conduza nos momentos de prova. È esta fé que fará com que “corramos com perseverança para o certame que nos é proposto, com os olhos fixos naquele que é outor e realização da fé, Jesus” (Hb 12,1-2).